sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Análise cefalométrica de adultos não tratados com padrão facial e oclusão ideais

Cephalometric analysis of untreated adults with ideal facial and occlusal relationships.
Int. J. Adult Orthod.Orthog. Surg. 1988; 4:221-31.
Ellis E, McNamara JA Jr.
Traduzido por: Cristiano Moraes da Silva (Tabelas no original)


Resumo


Muitas análises cefalométricas tem sido usadas para obtenção de amostras de indivíduos não tratados ortodonticamente para definir padrões cefalométricos de uma determinada população , geralmente classificada por idade e etnia . Os dados desses estudos podem ser usados para comparações durante o diagnóstico e plano de tratamento ortodôntico .

Cento e vinte e cinco indivíduos foram examinados neste estudo e os padrões dentofaciais de homens e mulheres não tratados com relação oclusal e facial ideais foram estabelecidos , apesar de inúmeras relações dentoesqueleticas resultarem em faces bem balanceadas e com oclusão ideal . O propósito de estabelecer normas cefalométricas não é criar objetivos para um tratamento individual e sim criar referências para avaliação e tratamento de determinados pacientes . O diagnóstico final e o plano de tratamento dependerá de vários outros fatores que não podem ser obtidos em uma radiografia .


Introdução


Análises cefalométricas tem sido aplicadas em indivíduos não tratados para definir normas ou padrões para determinada população , geralmente classificadas por idade ou etnia . Esses dados podem ser usados para comparações durante o diagnóstico e plano de tratamento ortodôntico . Os dados dos pacientes não tratados podem ser usados para ajudar a determinar os possíveis efeitos de um tratamento . Estudos cefalométricos publicados anteriormente tiveram grande variação em seu critério de seleção das amostras . De fato , alguns estudos não tinham amostras documentadas , usando casos e opiniões isoladas1 . Outros utilizaram a relação oclusal como único critério de inclusão 2-5 .O problema deste tipo de abordagem é obvio : uma boa relação oclusal pode existir em um indivíduo com um problema esquelético5 . Outros estudos utilizaram a estética facial como critério único de inclusão , independente da relação oclusal 6-8 .

Com a utilização freqüente das cirurgias ortognáticas para correção de discrepâncias esqueléticas a necessidade por padrões cefalométricos mais precisos está aumentando . Usar “normas” de estudos baseados somente em oclusão ou em estética facial em uma era em que comprovadas terapias cirúrgicas e ortodônticas são utilizadas não parece razoável .

As normas para adultos são mais utilizadas , pois a maioria das cirurgias ortognáticas são feitas em pacientes sem crescimento . Infelizmente muitas normas tem sido utilizadas em crianças e adolescentes 1-3 . Scheideman e colaboradores catalogaram e publicaram padrões cefalométricos de estudos anteriores com 56 adultos caucasianos não tratados com oclusão de Classe I9 . Outro critério de inclusão foi a razão de 15% entre as alturas faciais superior e inferior e ANB entre 0 e 4 graus . Este estudo não levou em consideração a estética facial . Outros estudos utilizaram critérios faciais e oclusais , embora estes não fossem “ideais” . 10,11

Este estudo propõe estabelecer normas cefalométricas dentárias e esqueléticas de uma ampla amostra de adultos com uma relação ideal oclusal e facial .


Materiais e Métodos


Os indivíduos utilizados neste estudo foram homens e mulheres caucasianos acima dos 16 anos de idade que possuíam boa estética facial e uma oclusão de Classe I. 57 indivíduos foram parte de amostras obtidas de estudos de normooclusão da Foundation for Orthodontic Research12 . Os outros 68 pacientes foram incluídos pelo autor principal . Os registros incluiam teleradiografias laterais e posteroanterior em todos os casos e fotografias frontal e lateral e modelos em alguns casos .

Cada indivíduo foi incluído no estudo depois de avaliação de cefalogramas não traçados , exames clínicos , fotografias extraorais e após pelo menos 2 examinadores determinar se o contorno facial era ideal . A face foi avaliada por balanço e simetria em vista frontal . As relações oclusais não tratadas tinham que conter todos os dentes , sem nenhum apinhamento e com possíveis exceções de terceiros molares e minimas rotações dentárias . Durante 10 anos , foram coletadas 81 mulheres e 44 homens com estas características .

Distorcões cefalométricas foram calculadas em 8% (padrão). Cada cefalograma foi traçado por um investigador e conferido por um segundo para verificar a precisão , depois foram digitalizados no Centro de Crescimento e Desenvolvimento Humano , da Universidade de Michigan , onde foram calculados os valores por computador e tabulados por sexo em relação a base craniana , estrutura maxilar , estrutura mandibular , estrutura dentoalveolar , relação intermaxilar e relações verticais . As variáveis utilizadas são uma síntese das anteriormente descritas por Steiner 1 ,Downs3 ,Scheideman et al9 ,McNamara13 , Ellis e McNamara14 . O teste t-Student foi usado para determinar a significância das diferenças entre as amostras de homens e mulheres .


Para obter padrões de acomodação dentoesqueletica dentro desta amostra , as correlações de Pearson foram calculadas da seguinte forma :


1. A medida da posição maxilar ( ponto A ao nasio perpendicular )

2. A medida da posição mandibular (ângulo facial - FNP)

3. Ângulo do plano mandibular ( FMA )

4. Ângulo ANB

5. AO-BO (Wits)

6. Altura facial posterior (S-Go)

7. Overbite

8. Incisivo superior ao plano de Frankfort (U1-FH)

9. Incisivo inferior (IMPA)

10. Ângulo interincisal (U1-L1)

A significância estatistica aceitável nestas correlações foi definida em p<.001


Resultados

Valores , desvios padrão , e significancia da diferença entre homens e mulheres estão listados na Tabela 1 a 6 . Significância positiva e negativa relacionada com 6 medidas específicas são mostradas na tabela 7 . Este estudo não visa discutir cada variável , a discussão será limitada à comparação de medidas utilizadas nesta amostra e em amostras publicadas anteriormente ( Tabela 8 ), bem como a discussão dos resultados das correlações .



Discussão



Uma revisão dos resultados mostra que a maior diferença entre homens e mulheres estão nas medidas lineares . Quando ângulos são usados muitas variáveis não tem diferença estatistica . Isto indica que em indivíduos com relação facial e oclusão ideais as variações dentoesqueletais são similares exceto em tamanho onde os homens tendem a ser maiores .

Os resultados mandibulares , intermaxilares , dentoalveolares e verticais não diferem muito de estudos publicados anteriormente . Isto é interessante porque os critérios de inclusão variaram em outros estudos . Ainda que nossos critérios de inclusão fossem mais restritivos do que em estudos anteriores , pequenas diferenças foram notadas nos resultados . Estas poucas diferenças , provavelmente estão baseadas na natureza dos indivíduos incluídos nas amostras .

Uma revisão das normas publicadas mostra que a variável mais utilizada para medir posição maxilar é o ângilo SNA (Tabela 8). Muitos estudos encontraram o valor aproximado de 82º para o SNA de homens e mulheres apesar de amostras de Bolton e também deste estudo mostram valores maiores (aprox. 2º), principalmente nos sexo masculino . Este estudo , juntamente com os de Bolton11 e Scheideman9 indicam que o valor de 82º para SNA pode ser pequeno para indivíduos com face boa a ideal . Isto mostra que valores de 83º ou 84º para SNA podem não ser sinal de protrusão maxilar , especialmente em indivíduos do sexo masculino.



Correlações com variáveis dentoesqueleticas



Dados deste estudo mostram muitas diferenças nas variações normais em indivíduos com relação facial e oclusal ideais . Uma avaliação das correlações na tabela 7 mostra alguns padrões interessantes de acomodação . Por exemplo , quando o ângulo do plano mandibular é elevado , o pogônio é posicionado mais posteriormente e existe um decrescimo na altura facial posterior. Para manter a relação de Classe I o incisivo inferior é inclinado lingualmente ( < IMPA ) . Quando o ANB é menor , a maxila é mais retruída e o plano mandibular é menor . Quando a mandibula está protruída a maxila e o incisivo superior estão protruídos .

Destes achados está claro que existe uma grande variação de relações dentoesqueléticas e que estas apropriadamente combinadas resultam em uma face bem balanceada e uma oclusão ideal de Classe I . Para ilustrar este fato muitos indivíduos que tiveram pelo menos uma variável dentária ou esquelética fora do padrão foram selecionados da amostra . A figura 1 é o traçado de uma mulher que demonstra biprotrusão e uma altura facial anterior diminuída com oclusão normal .A figura 2 é o traçado de um homem que demonstra protrusão mandibular e um baixo ANB . Para a manutenção da Classe I dentária o incisivo inferior está lingualmente inclinado . A figura 3 é o tracado de uma mulher que demonstra retrusão maxilar e um baixo ANB . Compensações dentárias para este padrão esquelético incluem protrusão do incisivo superior e retrusão do incisivo inferior . A figura 4 é o traçado de uma mulher que demonstra biprotrusão e uma diminuição da altura facial inferior e com oclusão normal . A figura 5 é o traçado de uma mulher que tem um plano mandibular e uma altura facial diminuídos com biprotrusão . A figura 6 representa um traçado de uma mulher que tem um plano mandibular muito aumentado e para compensar os incisivos inferiores estão lingualizados .


Conclusão


O presente estudo apresenta normas dentofaciais para homens e mulheres com relação facial e oclusal “ideal” apesar de inúmeras relações dentoesqueletais resultarem em faces bem balanceadas e com oclusão ideal .O propósito de estabelecer normas cefalométricas não é criar objetivos para um tratamento individual e sim criar referências para avaliação e tratamento dos pacientes . O diagnóstico final e o plano de tratamento dependerá de vários outros fatores que não podem ser obtidos em uma radiografia .


Referencias Bibliográficas

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